domingo, 3 de setembro de 2023

Prefácio



Niterói, 2 de setembro de 2023.


Alô, você que me lê,


Fui vacinado com SUGIP Súperes, ou GURPS Supers para os conservadores, no início do segundo bimestre de 1995. Estava passeando nos corredores do Colégio Odete São Paio, após o término da última prova do 1º bimestre, e vi, pela janela da sala, Rafael Veríssimo, vizinho da rua de cima, com os colegas numa mesa. Os diálogos exatos fogem desta mente quadragenária, mas parecia uma descrição dum combate super-heroico. Cheguei dizendo, “vocês tão jogando com super-heróis? Posso jogar, também?!”, “claro. Não dá pra tu entrar agora, mas na próxima sim”.

Sempre gostei de gibi e resolvera começar uma coleção de Super-homem, no ano anterior. Estava animadíssimo. Na sessão seguinte, estávamos no pátio e recebi a ficha pronta dum “Tocha Humana” pra preencher os campos em branco. Como todo estudante, li “Nome” e escrevi meu nome completo, à caneta, como se valesse ponto. A minha surpresa foi o campo seguinte, “Jogador”, quando tirei a dúvida com Veríssimo, a gargalhada foi geral e fui chamado de Isqueiro por um bom tempo. Mas foi uma ótima aventura (e campanha, também) introdutória ao JIP.

Ao passar dos anos, experimentei vários gêneros, como mestre e jogador, dentro do sistema: Fantasy, investigação, Cyberpunk, Viagem no Tempo, Viagem Espacial, etc. Outros sistemas, como AD&D 2ª edição, Tagmar e Cyberpunk 2020, como jogador sazonal.

Quando mudei para Araruama, em dezembro de 1998, tive contato com Vampiro: a Máscara 3ª edição, resultado: muitas histórias como jogador (até aceitar que a cidade inteira só jogava isso), decisão de narrar, proposição e cocriação da crônica Araruama à Noite, com rodízio de narradores. Foi manero, apesar do sistema. Até joguei outros sistemas por lá (3 vezes), uma volta às raízes pica das galáxias, com direito a ganhar 2 l de Mineirinho (por fazer uma ficha em 10 min) e derrotar o chefão sozinho aplicando física termodinâmica; e 2 sessões de Cyberpunk 2020. E só.

Ao voltar pra São Gonçalo, em fevereiro de 2002, trouxe uma fotocópia do daquele livro básico vampiresco, dada de presente quando fui devolvê-lo. A galera de Maria Paula ficou animada e narrei minha crônica Niterói à Noite pra 12 cabeças, sendo 3 mulheres (o que na época era grande feito). Perto do fim, dei de cara com Vampiros Mitológicos e Clube de Caça na banca, e os protagonistas viraram antagonistas na, agora, campanha Niterói à Noite, e foi divertidíssimo.

E então chegou (A)D&D 3ª edição. [Entidade de sua preferência]! Como joguei essa desgraça! Sempre joguei com bonecos astutos, sagazes e malandros, Freud diria que era pra compensar a minha manezice, sempre joguei fantasia como ladrão, mas com tanta jogatina acabei experimentando outras classes, como bárbara, mago (odiei), monge (icônico apreciador de suco de manga Gen Lao) e a maldição do clérigo (pois cheguei por último na sessão). O Padre Bento foi ficando mais monstro que Pe. Marcelo Rossi, deitou 2 colegas vampirizados (o bárbaro e o mago), virou bispo, arcebispo, cardeal e, por fim, Papa Bento I. Cheguei a 21 níveis de clérigo e 10 de hierofante, tampando até Hecatônquiro. Mas mestrei poucas campanhas.

Consegui fazer campanha de super-heróis novamente, só com Mutantes e Malfeitores 2ª edição, com cenário futurista próprio. O jogo é uma gambiarra funcional, mas, ainda assim, uma gambiarra.

Ainda teve Defensores de Tóquio 3ª edição, que tentava, sem sucesso, colocar a galera pra jogar. Mas joguei e mestrei com a turma do padawan Granja da Silva, que acabavam ficando com os manuais antigos sempre que adquiria um novo, movimento interrompido quando comprei a edição Alpha, em fevereiro de 2009.

Apesar de ter apoiado o conterrâneo Old Dragon no seu lançamento, em 2010, só consegui mestrar uma única sessão, em 2018, e nada mais. O que é uma sacanagem, pois eu li umas 3 vezes o vermelhinho.

Na pandemia foi um bombardeio de mesas, canais, jogos, e toda sorte de conteúdo para o passatempo. Reaproximei-me do JIP como muita gente e acabei, numa brincadeira memética, aflorando uma vontade criativa enterrada desde 25 de novembro de 2002: criar meu sistema de jogo.

Brincadeira bola de neve.


Apesar de jogar desde 1995, joguei pouca coisa por algum tempo, de lá pra cá. Tive alguma experiência, mas não significa que JOGO HÁ QUASE 30 ANOS, como muito se ouve por aí (Cê é o bichão, mermo! Jogou toda semana? Isso dá 1560 sessões!). Se a pessoa falar isso, sem ser um desenhista de jogo, é caô.

A BALA não tem grandes auspícios. Não é um plano de dominação mercadológica do nicho, até porque 1º, não sou desenhista de jogo (talvez agora seja?) e 2º, não sou tão inteligente pra tal. É só o desejo criativo aliado ao desafio autoimposto. É um JIP pra geral, principalmente sertanejas e suburbanas, que têm sido tão ignoradas pelas editoras com sua, cada vez maior, elitização.

Bonecagem. Neologismo pra brincar com boneca, como nos referíamos às personagens que fazíamos nos primórdios do passatempo, e como dubladores se referem a seus papéis.

Aventuresca. Não é uma aventura no sentido literal, mas será emocionante na sua imaginação.

Lúdica. Por mais que se exalte todas as qualidades do JIP, ainda é um jogo, com regras para diferenciá-lo do faz de conta.

Adaptável. A proposta é não precisar comprar um novo livro pra toda vez que trocar de gênero de cenário. É um sistema de jogo pensado pra classe trabalhadora. Seja fantasia, futurista, cangaço, espacial ou super-heroico, todo o necessário tá aqui.

A peculiaridade do gênero feminino no texto, se deve a um mero esforço de inclusão de mais da metade da população. Não significa que é um jogo só pra gurias e mulheres, mas que é amigável a estas.

A BALA é pra quem nunca jogou e pra quem tá querendo variar. Espero que se divirta.


Beijo no quengo e até a próxima,

Xikowisk.

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